Os primeiros meses frequentando a Saint Andrew´s Primary School não foram fáceis, pois o fato de ter sido alfabetizado primeiro em português e depois passar pelo sistema completo de alfabetização em inglês, nesta linda e competente escola, exigiu bastante dos meus professores. E também de mim!
Principalmente da Miss Judith que ficou encarregada de me alfabetizar. Mas ao final de dois meses já estava me comunicando razoavelmente e conseguia até dividir meu lanche com demais colegas e ser “iniciado” em sanduíches e lanches muito esquisitos para mim. Alguns exemplos – sanduiches de atum com maionese e pepinos crus (adoro, até hoje!), sanduíches de manteiga de amendoim (peanutbutter) com pedaços de abóboras (pumpkins) e o mais diferente – comida (e não sanduíches) típica indiana temperada com curry (algo inédito em minha vida até então) – as famosas chamoosas (sambusas em português – típico pastelzinho de massa, recheada com legumes e bem temperadas).
Tinha meu mate (colega) de carteira – pois nos sentávamos em duplas – o Mohammed Aynardij – um indiano bem moreno e de cabelo bem escuro que falava um inglês que eu realmente entendia! Nas provas, eu sempre pensava – que inocência dos professores, ficava bem fácil de “colar” aquilo que eu não sabia, pois bastava olhar para o lado e tudo certo! Hehehehehe!!!!! Ainda bem que o Mohammed era bem inteligente. E assim concluí parte da “Standard 2 e fui para a Standard 3”.
Quando comecei a Standard 4 as coisas já estavam bem “assentadas” em termos de comunicação em inglês e já me destacava nos esportes, tais como: atletismo, natação e futebol. Afinal, brasileiro e filho de treinador de futebol – me destacava facilmente entre a maioria dos meninos. Adorava as aulas de P.T. (Physical Tranining – Educação Física) pois de tempos em tempos tínhamos em finais de semana especiais – ao longo dos sábados inteiros – provas interclasses e disputas por medalhas.
Tenho até hoje guardados (e disponibilizarei para todos vocês) meu certificado por ter nadado – 50, 100 e 200 metros – uma conquista e tanto para um menino de 8 anos de idade. O que aprendi logo é que frio ou mesmo chuva, jamais foram empecilhos para fazer as aulas de natação – por vezes as 7.20 da manhã! Pessoal corajoso mesmo. Independente da época do ano. Simplesmente adorava.
Minhas amizades foram se ampliando e a habilidade para entender e expressar-me corretamente em inglês – porém com uma vasta gama de sotaques e entonações, senão vejamos: haviam os colegas indianos e paquistaneses da escola, os amigos ingleses (britânicos) igualmente da escola e da turma da primeira comunhão (sim, sou católico apostólico romano) e frequentávamos as missas na Igreja denominada: St Louis De Montfort Parish, Catholic Institute. Lá era a oportunidade de poder estar em contato com meninos e meninas de várias nacionalidades. Havia também o grupo de meninos do futebol, em especial o Jonathan (que reencontrei anos depois na África do Sul – quando já tínhamos quase 20 anos), bem como o Timothy – outro garoto bom de bola que era filho de ingleses. Curtíamos juntos os aviões, tanques e armamentos da II Guerra Mundial (Hurricanes, Spitfires entre outros) – aliás tema pelo qual sou apaixonado até hoje – tendo lido centenas de livros sobre a temática em nossas andanças por bibliotecas inglesas em diferentes países da África em que moramos e estudamos.
Não posso deixar de mencionar meus dois irmãos queridos e Malawianos: o Morris e o Edwin. Dois meninos que moravam perto da nossa casa e que vinham andar de bicicleta, jogar futebol e “desbravar” os terrenos contíguos do bairro do Nyambadwe. Com eles o inglês parecia mais fácil e havia uma interação bem legal entre nós três. O Morris tinha minha idade e o Edwin era mais novo, talvez um ou dois anos – mas era nosso parceiro e super esperto também!
Portanto o caldeirão de sotaques, fonéticas, gírias e outras expressões específicas no idioma inglês, foram forjadas nestes dois anos de memórias inesquecíveis no país denominado “The Warm Heart of Africa” – de povo gentil, simpático e que sempre amou nós brasileiros. Tenho muitas saudades do Malawi e das belezas do Lago Malawi, do Mount Soche, da cidade de Zomba e dos amigos portugueses – que também falavam inglês comigo (e era difícil eu entender por que inglês – se falávamos a mesma língua – mas isso é uma outra história) e com os quais aprendi a falar inglês com um viés que anos mais tarde me foi muito útil na escola secundária.
Até a próxima meus amigos e minhas amigas.
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